zondag 16 december 2007

Ternura

Uma inexplicável ternura,
um remorso comovido lacrimoso,
Por todas aquelas vítimas - principalmente as crianças -
Que sonhei fazendo ao sonhar-me pirata antigo,
Emoção comovida, porque elas foram minhas vítimas;
Terna e suave, porque não o foram realmente;
Uma ternura confusa, como um vidro embaciado, azulada,
Canta velhas canções na minha pobre alma dolorida.

Ah, como pude eu pensar, sonhar aquelas coisas?
Que longe estou do que fui há uns momentos!
Histeria das sensações - ora estas, ora as opostas!
Na loura manha que se ergue, como o meu ouvido só escolhe

As coisas de acordo com esta emoção - o marulho das aguas,
O marulho leve das águas do rio de encontro ao cais...
A vela passando perto de outro lado do rio,
Os montes longínquos , dum azul japonês,
As casas de Almada,
E o que há de suavidade e de infância na hora matutina!...

Uma gaivota que passa,
E a minha ternura é maior.

Fragmento de Ode Marítima
Fernando Pessoa

In het Nederlands te beluisteren in de uitzending van 13 december van Radio Cicada
>>> zie ook het bericht High Culture on the Air :)

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